Cena de filme

E aí eu pego sem querer fuçando no You Tube, cenas de um daqueles filmes românticos antigos, com aquelas besteiras de amor, sabe, aquelas besteiras (maravilhosas) para as quais eu achei que nem ligava mais, tsc, mas isso é apenas uma doce mentira que inventei para mim.

A cada dia vai ficando mais fácil manter o coração endurecido, mas, eu mantenho a teimosia e vou me derramando a cada nova oportunidade de me emocionar de novo. É uma sede tão genuína quanto a sede por água e alimento, ao menos para mim.

No bites

Concreta enfim

Em que momento será que eu deixei de ser aquela jovem admirável? Quando é que deixei de  me sentir como se fosse o primeiro raio de sol ao acordar?

Devo ter envelhecido.

Os padrões. Ah, precisa-se urgentemente fazer o que é certo. E quem decretou isso?

O que é o certo? Parece ser o contrário do meu tudo. Minha sina.

Meu dolo: gostar demais da parte “fácil” da vida. E desde quando que viver precisa ter parte fácil e difícil? Mas tem. O lado difícil dura muito e começa cedo. Às vezes termina tarde demais.

A parte fácil – a leveza, as risadas, a falta de compromisso, a louça por lavar, a falta de disciplina, de compostura, de horário e de vergonha -, fica para quando encontrar-se tempo. Para quando, já cansados, extenuados de termos cumprido com tantos padrões e feito  coisinhas corretas, possamos finalmente respirar e encenar estarmos vivos. Sorria e espere sua hora.

A vida é uma coisa normal. Uma coisa aí, que eu tenho e você também. A vida pode ser uma emoção. Diga para si.

Preciso de meu próprio estoque de frases prontas. Minha pontada de dor de cabeça já se avizinha. A despeito disso, conservo uma teimosia irretocável.

Sigo com meu rosto molhado pela dor da compreensão total. É pesado demais. Não, não quero entender, não quero mais.

Meus pés estão num cimento morno e reconfortante.

O vento é forte e seca tudo:  as lágrimas, os sonhos, e as últimas ilusões perdidas.

Entre a Rainha Má, a princesa e o cansaço

Mais um texto meu para o Vila Mulher.

Entre a Rainha Má, a princesa e o cansaço

A mulher de hoje está entre a cruz e a espada. Ela quer ser uma princesa, mas descobre que para vencer, precisa mesmo ser uma Rainha má, mas passa a maior parte do tempo correndo atrás da felicidade como uma maratonista, ou uma guerreira no estilo de Joana D´Arc. Achou muito Vilamiga? É mesmo, e depois de “ser” tudo isso bate um cansaço.

Os estereótipos femininos continuam a pesar sobre as mulheres, as mulheres para casar, as mães de família, que se vêm às voltas com renúncias ou escolhas, as divas, as deusas, as inspiradoras, as periguetes, e no fundo todas elas são as mulheres reais.

Há algumas mulheres que parecem não ligar muito, ou que renunciaram a padrões cruéis e surreais. Já comentamos sobre isso por aqui, mas como todo bom clichê, ele permanece atual, quem é a mulher de hoje? Será que ela se resume a uma descrição, ou um rótulo limitador? Os meios de comunicação estão optando por criar verdadeiros segmentos no tema.

No cinema, vemos uma Rainha Má insegura com a idade preocupadíssima com o que diz o espelho, pois tem um paquera mais jovem. E a atriz que a interpreta Julia Roberts, já foi namoradinha da América, e agora é artista segura no topo dos seus quarenta e poucos anos.

Na televisão, vemos duas novelas da Rede Globo, que estão tentando dar voz às mulheres “normais”, ou seja, a maioria das pessoas. As empregadas domésticas, os fenômenos musicais do Pará (pode torcer o nariz, mas, elas estão abafando) na novela das 7 “Cheias de Charme”. Vejam o exemplo da personagem de Isis Valverde, na novela das 21 horas, “Avenida Brasil”, que agora começa mais tarde, ela quer levar vantagem e usa as suas “armas”.

Todo mundo sabe que cada pessoa, usa o que tem para tentar vencer na vida, seja seu conhecimento, seja sua esperteza, ou os seus atributos físicos. E quem é que pode julgá-las? Ninguém pode.

Afinal, as mulheres estão se livrando aos poucos da imagem de beleza que reinava até o final dos anos 90, de rostos perfeitos e estética definida. Agora o que reina é a realidade, a criatividade, e o espaço para belezas diferentes, a magreza excessiva está caindo em desuso, pelo menos fora das passarelas. As estrelas estão cada vez mais perto da terra firme, aliás cada vez menos estrelas e sim figuras inspiradoras.

Você se identifica com alguma personagem das novelas e filmes atuais?

Por Giseli Miliozi

 

Cry me a river

O título deste post é o nome de uma música homônima de uma diva do jazz, Ella Fitzgerald.  E lembrei dela porque ela diz exatamente o que quer dizer, a arte de dar e receber em troca o que se deu, ou seja, um dos tremendos “maiores enganos” do ser humano. Se tem algo que tenho aprendido a duras penas, e não faz muito tempo, é que não dá para ser feliz, se em algum momento a gente confiar nessa troca, nessa suposta troca.

Logicamente, cada coisa deve ser colocada em seu lugar, há pessoas e pessoas, há relacionamentos e arremedos de coleguismo e há aqueles, bem, há aqueles em que a gente simplesmente não acredita mais.

A imagem que me vêm à cabeça (eu associo tudo com cenas de filmes, me desculpem, mas é assim) é uma cena do filme “E.T.” em que aquela criaturinha extraterrestre pela qual chorei rios na minha tenra infância, carregava consigo um vaso de flor que refletia seu estado de espírito. Acho que é uma ótima metáfora para quando a confiança e a amizade – amor, ou seja lá, qual for o sentimento  – que nutres por outrem se esgota, ou você apenas se cansa e precisa parar para regar aquela flor, que antes se mantinha em pé, sem essa necessidade de nutrição.

Pode demorar, mas, um dia todo solo precisa de adubo. Pode não ser tão doce ou poético, mas a vida real, quase nunca é. Se a gente quer poesia, melhor ler Drumond ou assistir “A invenção de Hugo Cabret”. Câmbio.

A, quase esqueci de postar a música tema para hoje, estilo arrasa coração, quarteirão e desilusão, da Ella.

Todo mundo espera alguma coisa

Amanhã é sexta. E daí? Depois de domingo é segunda. E daí? Essa expectativa diante de dias decisivos, e até angustiantes como estes me mata. Pode ser apenas um momento, mas tenho a sensação de estar na beirada de um edifício prestes a pular, ou sentada à beira de um rio vendo a água deslizar, de maneira interminável e intermitente. Tudo continua acontecendo, escorrendo, derretendo e se consumindo sem a minha interferência, nada depende de mim. Nada.

Sorte da minha gata, que nasceu para miar.

Entre dois amores

E eu vivo entre dois amores, a moda e o cinema. E tenho a sorte/oportunidade de poder escrever sobre eles, frequentemente. Diariamente.

Há um ano exerço essa divertida função escrevendo para o portal Vila Mulher – www.vilamulher.terra.com.br

Um dos meus primeiros textos sobre moda e cinema, em tempo, só para lembrar as melhores coisas dessa minha vida.

Clique na foto para ver a matéria na íntegra.

Ingrid Bergman em Casablanca imortalizou o trench coat

 

Meio amargo regressso

Ilustração de Gabriel Moreno

Escrever é um prazer e um sofrimento que eu escolhi para mim. E embora eu tivesse em mente objetivos pueris de mudar o mundo, quando cursei jornalismo, hoje só penso em disseminar a beleza, a moda, a alegria e a arte, além de entreter as pessoas.

Para tal, eu uso 0,75% do que a faculdade me ensinou. No restante do meu tempo eu vou fazendo, vejo no que dá, sinto, cheiro, olho, e tento passar o que eu sinto, seja bonito, feio, ou esfuziante. Meu negócio é fazer moda, e nem faz tanto tempo que descobri. O que eu sempre soube é do que não gostava, e do que não gosto.

Hoje, aos quase, 40 anos de idade, sinto a inconsequência profissional (para alguns) chegando nos tampos. Hoje, me dou ao luxo de dizer não, e de implorar por um sim, quando acho que vale a pena. E pago o preço por isso, nem sempre alegremente, mas sempre EU.

Estou aqui, dando essa enrolada em vocês, pois quero voltar a escrever aqui, sobre tudo. Sobre a moda que me faz ser mais feliz, sobre amor e sexo, outra editoria que eu adoro, e sobre o nada. Talvez eu me atreva a dar uma versada sobre algo ligado ao público, à chata, porém necessária política, e sobre a cor dos pelos dos focinhos do meu cachorro, ou seja, tudo importante, ou não.

Cinema é um dos meus motores, eu considero quase uma terapia, bem melhor do que analista, mesmo porque, tenho dó de pagar alguém para me ouvir, tenho amigos para isso. Uns dois. Me julguem, não quero menosprezar profissional nenhum, mas, não me sinto no momento de pensar nisso. Há tantas coisas para ver, e para refletir, livros para ler, filmes para ver, trabalhos a fazer…whatever darlings.

Minha última sessão de terapia foi “A invenção de Hugo Cabret”, uma verdadeira homenagem à sétima arte, repleta de sonhos, e ao mesmo, a  tristeza por ver alguns deles enterrados. Ele tem um certo ar de “Cinema Paradiso” em 3D.

A fotografia da película de Martin Scorcese, um diretor que passei a admirar, é outra coisa (das várias), que me fizeram chorar, e as lágrimas teimavam em cair quando um rasante de câmera passeava pela Paris dos anos 20. O filme foi rotulado como infantil, deveria ser universal. Vá ver, correndo.

Ahh, eu e meu fraco por Paris. Mas isso é um capítulo de uma outra aventura minha bem real e não menos sensacional.

E não é que esse texto que começou meio bucólico acabou me animando? Nem pensei em um começo, um meio e um fim quando me coloquei a cumprir a meta de postar aqui hoje. Quem nunca? Eu sempre.

Câmbio

O Plano B

Eu em Giverny, França. Junho de 2010. Único plano que deu certo.

Dividir a vida em categorias me parece muito estranho, me parece burocrático demais, me parece falta do que viver. Pode ser. Mas há momento em que parar e olhar para uma folha em branco é o mais acertado.

E quando a gente resolve se aventurar quando na verdade, segundo a “sabedoria” popular, a gente deveria estar pensando na aposentadoria vindoura e em fundo de garantia? Eu acabo de dar entrada no meu “Plano B”, sinto-me uma estagiária, e inacreditavelmente, vejo muita graça nisso tudo.

Primeiro o grande salto, depois a avaliação. E o acaso vai me proteger enquanto eu andar distraída. Se eu parar para pensar, vou ficar muito responsável e ouvir coisas como “você precisa pensar no futuro”. Então, eu desprezo a lógica, como se isso fosse possível e vou-me.

Não, eu não sofro de síndrome de Peter Pan, eu simplesmente me sinto assim.

Estou largando as amarras para viver perigosamente sendo minha própria chefe, dona do meu próprio negócio, e esse plano nunca foi o Plano B. Ele nem mesmo era um plano, era um…nada, talvez um pequeno desejo, desses que a gente nem acalenta muito, por medo e por insegurança. E esse tipo de coisinha mata aos poucos. Prefiro algo mais pontual, morte rápida, e com emoção, lógico.

E aí que na “limpeza de porão” eu achei o Suando na Neve. E como filosofia de buteco e papo furado sempre atraem, eu vou jogar tudo aqui. Sem rumo certo, mas sempre adiante.

Uma questão de pele

O novo filme de Pedro Almodóvar, “A pele que habito” foi adaptado de um livro, “Tarântula”, do autor Thierry Jonquet, é uma história que até poderia se perder, e se transformar num filmeco de terror, porém, nas mãos deste intrépido espanhol, é uma ode ao suspense.

Aviso aos mais sensíveis – a tensão é máxima, o peso extremo. Esse climão cai muito bem, assim que se conhece a história de Richard Ledgard (Antonio Banderas), um cirurgião plástico que perdeu a mulher vítima de queimaduras num acidente de automóvel, e desde então, se tornou um especialista em pesquisas para descobrir uma pele que poderia tê-la salvo.

Ele mantém uma mulher, Vera – sua cobaia, sua criação –  presa num quarto, e nela ele testa as peles que tanto persegue incessantemente. O figurino é todo feito de macacões nude e pretos, continua sendo de Jean Paul Gaultier. “Você é a mulher com a melhor pele do mundo”, segundo o cirurgião.

Banderas não trabalhava com Almodóvar desde 1990 em “Ata-me”, e nesta película o ator marca com uma ótima interpretação, e parece ainda mais sexy falando em espanhol. Ele consegue encarnar um homem marcado por tragédias em série, e com um ar de médico louco, desses que não medem esforços para conseguirem o que querem. Aliás, o argumento do filme redefine a expressão “medir esforços”.

É surpreendente, e confesso que depois da sessão, minha mãos estavam úmidas, mas eu estava feliz por ter finalmente, visto novamente uma obra prima, o primeiro suspense de Pedro. A Pele, vai marcar o gênero, como quando o blockbuster M. Night Shyamalan fez seu “Sexto Sentido”. Só que Almodóvar nunca se deixa seduzir por grandes bilheterias. Ao menos, até agora.

As piadas inesperadas e pequenas pitadas de humor negro para se rir com o canto da boca, quebram um pouco a linearidade da tensão. Pedro Almodóvar se supera e recupera a maestria depois do seu último filme, “Abrazos rotos”, que considero fraco, levando-se em conta sua filmografia.

Dizer mais me faria colocar um spoiler aqui, e garanto que vale a esperar e se aventurar na sala escura do cinema.

Por Giseli Miliozi